Sou uma pessoa de poucas rotinas, mas uma das que gostava era sentar para ler o jornal tomando meu café da manhã. Com calma. Gosto de abrir as páginas, ler as manchetes, me perder em algumas matérias… Agora não mais. Abri mão do jornal em papel, então enquanto faço o meu café, deixo baixando o exemplar do dia no iPad. A leitura prazerosa passou a ser leitura dinâmica, cortando as páginas de alto a baixo na diagonal. A leitura diária passou a ser um massacre. Corrupção, violência, rebelião em presídios, assassinatos, e por aí vai. Um balde de água fria em qualquer esperança de um país melhor. Já abri mão de ver o telejornal matutino porque não me faz nada bem. Sigo o meu dia tentando resguardar o que sobrou da esperança dos meus sonhos da noite anterior, só para dar de cara com a malandragem na rua, seja do motorista que não respeita regra nenhuma, do lixo jogado fora do lugar, ou da agressividade exposta nas ruas entre as pessoas – sejam elas familiares ou não. Desânimo. Tristeza. Parece que de fato nunca na história desse país seremos o país do futuro. O futuro está além da parede de vidro. Podemos ver e imaginar, mas não vivê-lo.
Quando sou tomada por essa onda de desesperança, sou surpreendida por algo de bom. Sempre. Como diz o ditado: quando uma porta fecha, uma janela se abre.
Estive conversando com ex-alunos da Escola Dom Cipriano para gravar alguns depoimentos. Pude ver de perto a transformação na vida de cada um. Simplesmente porque foram motivados a sonhar. A acreditar que podiam viver seus sonhos e mudar a sua realidade. Não é pouca coisa, não. Dar asas à crianças é permitir que cada um de nós sonhe mais alto. Sonhe com um futuro possível. Entre meninos e meninas de diferentes idades, em comum a importância de aprenderem a viver o amor, a gentileza no dia-a-dia e, a acreditar em si. A Escola Dom abre portas, mostra possibilidades, mas a conquista é individual de cada criança.
Ainda envolta nessa esperança, assisto a uma peça toda feita por jovens de uma ONG – música, texto e dança, com histórias de suas próprias vidas. Jovens que estão transformando suas realidades através de um sonho – fazer arte. Para logo em seguida ler no jornal que um grupo de empresários – leia-se aqui jovens na faixa de 30 anos que trabalham por conta própria. Não são mega empresários com recursos sem fim – se uniram no Nordeste para dar bolsas aos melhores alunos da rede pública. Eles mesmos fazem a seleção após uma pré-seleção dos diretores das escolas, e mantêm os bolsistas em escolas particulares até a faculdade. Simples e eficiente.
Não dá para desanimar, dá? Se procurarmos vamos achar diversos casos como esses de entidades que estão trabalhando duro para dar uma oportunidade para aqueles que não têm nenhuma, mas infelizmente o que vende jornal ainda é sangue, suor e lágrima. Essas estórias não vendem jornal. Mas elas são reais e estão por todos os lados. Precisamos divulgá-las mais para motivar outros a participarem dessa corrente do bem – o bem que você recebe deve passar adiante para 5 pessoas. Tem até um filme com esse projeto – lindo por sinal.
Em comum as estórias de transformação começa com uma pessoa e uma vontade. Um trabalho de formiguinha, mas que ao longo do tempo e unindo esforços com outras formiguinhas mudam a nossa realidade.
Convido você a ser uma formiguinha e transformar vidas. Pode começar por alguém da família, um vizinho, na escola dos filhos, no trabalho ou voluntariando-se em alguma instituição. O importante é começar. Qualquer trabalho faz a diferença no todo.