Rezar sempre. Reclamar menos. Viver seu propósito de vida. Essas são as três dicas que o Dom Filipe deu na missa de final de ano na rua em frente a Comunidade Emanuel.
Simples. Direto. Prático e objetivo. Só tem um detalhe: difícil de executar. Vamos lá – rezar sempre. Como silenciar o mundo que anda a 200km/h para encontrar Deus? Como não responder o what’sapp que não para de apitar? Sem falar nas notificações que não param de piscar na tela do computador, smartphone e TV. É… estamos cada vez mais acelerados e menos inteiros no que estamos de fato fazendo – ou pior – menos inteiros com quem nos propusemos a dividir um momento.
Confesso que tenho dificuldade com a disciplina da meditação – no longo prazo e na longa duração; mas consegui fazer as pazes com o meu ritmo. Desconecto do mundo digital. Reconecto comigo. Pequenos momentos de oração – uma ambulância que passa (uma Ave-Maria); uma bela paisagem (no Rio somos mimados por elas); uma pequena conquista ao longo do dia; ao acordar, perceber que tenho o dia todo para fazer a diferença; a noite pouco antes de dormir… O que funciona melhor para mim é estar conectado com o mundo lá fora – interceder por alguém/algo e agradecer. São tantas coisas boas que nos acontecem todos os dias, que acabam passando desapercebidas. Quando conectamos com o outro e o mundo lá fora, percebemos que o nosso umbigo é muito pequeno e não está tão ruim assim… O que nos leva para a segunda dica – reclamar menos. Pronto! Entra-se no círculo virtuoso. Reza-se sempre.
Logo temos gratidão por tudo que somos e temos. Logo reclamamos menos e deixamos de sermos credores do mundo. Logo estamos em paz conosco e com o mundo. Logo chegamos a terceira dica – propósito de vida. Se estamos equilibrados – forças internas e externas – entramos no que os neurologistas estão chamando de estado de Fluxo.
O que é o Fluxo? É quando estamos tão no presente que perdemos noção da hora. Quando nos damos conta do que aconteceu, já era. Já passou. Esse estado pode acontecer a qualquer momento, fazendo qualquer coisa. O grande pulo do gato, segundo os estudiosos, é que quanto mais temos momentos de Fluxo (lógico que não conseguimos ficar nesse estado o tempo todo e durante muito tempo), mais felizes somos. Ainda não se descobriu uma fórmula para chegar ao Fluxo, mas algumas características já foram desvendadas: colocar sua atenção na atividade que está praticando; quanto mais essa atividade exigir conexões neurais e habilidade física mais fácil de atingir o objetivo – por isso esportes que exigem muita concentração e esforço físico são ótimos condutores de Fluxo. Atividades com ritmo cadenciado facilitam desacelerar a mente, assim como um mantra na meditação. O corpo todo responde a mesma batida, fluindo para o mesmo lugar.
Por que o Fluxo é importante? Porque quanto mais a pessoa se encontra nesse estado, mais perto do seu propósito de vida está. Ela está vivendo o seu sonho. Simples assim. Sabe quando você sente que finalmente tudo está encaixado? Quando parece mágica? Pois é. Você está vivendo o seu dom. Sabe que está no caminho certo, mesmo quando as coisas dão errado. Os contra-tempos, os percalços não te tiram mais do sério. Você tem certeza que em breve vai ser recompensado com outro momento de Fluxo e tudo vai ficar bem no final das contas. Quanto mais se vive assim, mais gratidão sente-se. Quanto mais gratidão, menos reclamação temos da vida. Quanto menos reclamações, melhor nos sentimos, mais felizes somos. Simples assim.
A pergunta que não quer calar é por que demoramos tanto para executar essas três etapas? Parece que na maioria do tempo estamos indo justamente contra a maré – invejando o que outros tem e/ou são; reclamando muito mais e, sobrevivendo – não vivendo. E o detalhe? Culpamos Deus porque nós não estamos fazendo o nosso dever de casa de três etapas!
Bom, se fosse fácil, todo mundo já estaria praticando e vivendo feliz até que a morte nos separe. Eu sei que não é. Mas é uma opção. Uma opção diária – eu quero ser feliz? O que eu posso fazer para ser feliz hoje? O que depende de mim?
Ok, algumas vezes estamos tão encostados contra-parede que acreditamos que não temos saída. Sempre tem saída. Se não conseguimos chegar nela sozinhos, devemos procurar ajuda. Mas para procurar ajuda, precisamos dar o primeiro passo. O segundo e o terceiro. E a ajuda do outro sozinha não vai nos ajudar. Precisamos querer ser ajudados e nos ajudar. Precisamos quebrar as paredes que nos mantêm na zona de conforto da reclamação e insatisfação. Precisamos mudar o nosso comportamento. A nossa maneira de enxergar o mundo. O eu é essencial nessa equação. A sua vida agradece. O mundo agradece.