Meu irmão e minha irmã, vivemos em um mundo cada vez mais individualista, cada um procura saber apenas o que lhe interessa. Ninguém tem tempo para ouvir o próximo mas, subitamente, nos damos conta que estamos vivendo em uma bolha artificial.
Não somos mais afetados pelo mundo hostil que nos cerca. Levantamos muralhas e queremos apenas nos defender das ciladas da vida, das ameaças externas, das dores dos relacionamentos fraturados.
Não nos interessamos pelo quIe acontece “lá fora”.
É tempo de refletir sobre nosso estado, e para isso nada melhor do que ler a passagem bíblica de
Mc 1,32-39:
Jesus começou a curar os doentes, expulsar demônios e, à noite, retirou-se para o deserto para orar.
No centro de atividades extenuantes ouvimos uma palavra repousante.
Em meio à ação, há contemplação.
Depois de muita confraternização há solidão.
No deserto ele acha coragem para fazer a vontade de Deus, não a sua.
Para dizer as palavras de Deus, não as suas, para realizar as obras de Deus, não as suas.
Em Jo 5,30 lemos:..”não posso fazer nada por mim mesmo….mas a vontade daquele que me enviou” –
Em Jo 14,10: “ As palavras que eu vos digo, não as digo por mim…é o Pai que, permanecendo em mim, realiza suas próprias obras”.
É no deserto, onde Jesus inicia a intimidade com o Pai, que nasce seu ministério.
Em nosso mundo atual, trepidante, competitivo, todos temos grande desejo de realizar algo.
Todos nós nos julgamos sob o aspecto de nossa contribuição para a vida de nossa família, de nossa sociedade.
Quando envelhecemos, grande parte de nosso sentimento de alegria ou tristeza depende de nossa avaliação do papel que desempenhamos na formação de nosso mundo e sua história.
Contudo, quando começamos a nos impressionar demais com os resultados de nosso trabalho, lentamente chegamos à conclusão errônea de que a vida é um grande placar, onde alguém marca os pontos para medir nosso valor.
Vendemos a alma para os muitos que nos dão nota, o que significa que não só estamos no mundo, mas também somos do mundo, somos o que o mundo nos faz.
Apesar dessa busca pelo sucesso, muitos sofrem de falta de amor-próprio. Temem que algum dia alguém descubra a ilusão e mostre que não somos tão espertos, tão bons ou tão estimáveis quanto fizemos o mundo acreditar que éramos. Esse medo desgastante de que descubram nossas fraquezas impede a participação comunitária e criativa.
Levar uma vida cristã significa viver no mundo sem ser dele.
Na solidão descobrimos que nossa vida não é um bem a ser defendido, mas uma dádiva a compartilhar
Na solidão envelhecemos livremente, sem nos preocupar com nossa utilidade e oferecemos um serviço que não havíamos planejado.
Quando deixamos de depender deste mundo, seja lá o que for que o mundo signifique – pai, mãe, filhos, carreira, sucesso ou recompensas – formamos uma comunidade de fé em que há pouco a defender, mas muito a partilhar.
Lembro o papa João XXIII que sabia rir de si mesmo e quando um jornalista lhe perguntou:
-“Santo Padre, quantas pessoas trabalham no Vaticano?
Ele pensou um pouco e respondeu:
-“Bem, acho que metade delas.”
Como comunidade de fé trabalhamos com afinco, mas não somos destruídos pela falta de resultados.
Lembrando uns aos outros que formamos uma fraternidade de fracos, que nos lugares desertos ouve uma voz que nos diz:
-“Não temais, sois aceitos!”
Abramos nosso coração, aproximemo-nos do próximo, compartilhemos seu sofrimento, sua solidão, mesmo que não tenhamos palavras adequadas de conforto. Façamos de nossa presença uma ponte entre nossos irmãos.
Leia o livro de Dom Cipriano À MANEIRA DE JESUS e conheça como Jesus treinou seus discípulos para fazerem o mesmo que Ele fez e muito mais.
A Paz de Jesus